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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Bem acima da pobreza da Índia, torre abrigará cinco super-ricos



A mais nova e mais exclusiva torre residencial para os super-ricos desta cidade é um prédio de aço e vidro de 27 andares. A garagem ocupa seis andares. Há três heliportos na cobertura. Há terraços acima de terraços, piscinas que se projetam no ar e jardins suspensos em um edifício que mistura Blade Runner e Babilônia com vista para a cidade mais dinâmica da Índia.

Há nove elevadores, um spa, um cinema com 50 lugares e um salão de baile. Centenas de serviçais e funcionários deverão trabalhar em seu interior. E agora, finalmente, após vários anos de planejamento e construção, os moradores estão prestes a se mudar.

Todos os cinco.

A torre, conhecida como Antilia, é o novo lar do homem mais rico da Índia, Mukesh Ambani, cuja fortuna de US$ 27 bilhões o coloca entre as pessoas mais ricas do mundo. E mesmo aqui, na capital financeira do país, onde os moradores testemunham diariamente os extremos da riqueza e pobreza indiana, o prédio de Ambani é tão espetacularmente exagerado que as fronteiras já elásticas de excesso e disparidade da cidade estão se esticando para novas dimensões.

“Uma única família vai viver naquilo?” disse Prahlad Kakkar, um cineasta publicitário e morador proeminente da cidade. “Ou é um marco, um símbolo ou é Mammon.” Ele acrescentou: “Há choque e espanto –ao mesmo tempo”.

Ambani, sua esposa, Nita, e seus três filhos deverão se mudar para o prédio após uma festa de inauguração da residência para 200 pessoas, prevista para 28 de novembro. Por sua vez, Ambani se recusou a comentar a respeito do projeto a pediu a seus projetistas, decoradores e outros prestadores de serviço que assinassem acordos de sigilo, como se um cone de silêncio pudesse ser levantado ao redor de um arranha-céu se erguendo quase à beira do Mar da Arábia.

Previsivelmente, e talvez de modo intencional, aconteceu o oposto. Detalhes vazaram –muitos deles confirmados ou contestados anonimamente por pessoas familiarizadas com o projeto. Alguns relatos estimaram o espaço residencial total em 37 mil metros quadrados, apesar de pessoas próximas ao projeto terem dito que o número real é de mais humildes 5.500 metros quadrados. Relatos na mídia estimaram o valor do prédio em US$ 1 bilhão, um valor contestado por pessoas familiarizadas com o projeto.

Independente disso, uma cidade embasbacada recebeu a nova torre com uma mistura de assombro e reflexão moral, inveja e condenação, tudo salpicado com análises freudianas da pergunta mais básica: por que ele fez isso?

“Todos nós estamos um tanto perplexos”, disse Alyque Padamsee, um antigo executivo de publicidade e ator. “Eu acho que as pessoas veem isso como exibicionismo.”

Um pouco.

Há décadas a família Ambani é a novela corporativa mais famosa da Índia. O pai, Dhirubhai Ambani, foi um magnata que ascendeu da pobreza à riqueza e criou a Reliance Industries, após crescer nos cortiços dickensianos da cidade, conhecidos como chawls. Hoje, a Reliance é a maior produtora do mundo de fibras e fios de poliéster e é responsável por quase 15% das exportações da Índia, segundo o relatório anual da empresa. Os dois filhos, Mukesh e Anil, herdaram e dividiram o império, assim como passaram anos brigando, incluindo uma disputa recente em torno de direitos de gás natural, que provocou uma reprimenda do primeiro-ministro antes que o caso fosse resolvido por um acordo na Suprema Corte da Índia a favor de Mukesh.

Dos dois irmãos, Anil é mais ostentoso e sociável, enquanto Mukesh é considerado mais moderado –menos provável, em teoria, de construir uma residência de 27 andares para si mesmo. A nova torre fica na Altamount Road, a mesma rua residencial arborizada no sul de Mumbai onde o pai comprou sua primeira casa, após deixar o cortiço com a família. Posteriormente, ele comprou um prédio de apartamentos de 14 andares chamado Sea Wind, onde tanto Mukesh quanto Anil moraram com suas famílias em andares diferentes, mesmo durante a briga entre eles. (A mãe dele arbitrava de sua própria residência no prédio.)

Agora Mukesh está se mudando para uma torre que faz o Sea Wind parecer uma casa de hóspedes.

“É uma espécie de retorno com vingança para o local onde chegaram à classe média e superaram todos”, disse Hamish McDonald, que narrou a história da família em seu novo livro, “Mahabharata in Polyester: The Making of the World’s Richest Brothers and Their Feud”.

“Ele meio que está dizendo: ‘Eu sou rico e não me importo com o que vocês pensem’”, disse McDonald.

Mumbai, antes conhecida como Bombaim, é a cidade mais cosmopolita da Índia, com uma área metropolitana de aproximadamente 20 milhões de habitantes. Migrantes vieram para a cidade durante a última década, atraídos pela reputação de Mumbai de “cidade dos sonhos” da Índia, onde qualquer um pode se tornar rico. Mas também é uma cidade famosa por sua pobreza: um estudo recente apontou que aproximadamente 62% da população vivem em favelas, incluindo uma das maiores da Ásia, Dharavi, que abriga mais de 1 milhão de pessoas.

Os preços dos imóveis estão entre os mais altos do mundo, levando muitos dos moradores de classe operária para as favelas, enquanto empreendedores imobiliários ousadamente limpam terrenos para uma nova geração de torres para os ricos. Os prédios são considerados inevitáveis e necessários, dado os terrenos limitados da cidade peninsular e o inchaço da população, mas as altas torres isolam ainda mais os ricos da metrópole abaixo.

Com seus heliportos, que ainda aguardam por aprovação da Marinha indiana para operarem, Ambani poderia viver em Mumbai sem jamais tocar no solo.

“Este é um condomínio fechado no céu”, disse Gyan Prakash, autor do novo livro “Mumbai Fables”. “De certa forma reflete a forma como os ricos estão dando as costas para a cidade.”

Ao longo da Altamount Road, que também é lar de outros industriais, a reação ao novo vizinho é ambígua. Alguns idosos ao longo da rua temem o barulho dos helicópteros. Mas Utsav Unadkat e Harsh Daga, estudantes universitários que cresceram no bairro, olharam para a torre certa tarde como se fosse um sonho realizado.

“Eu ouvi que ele tem um posto de serviços da BMW no interior”, disse Unadkat, tragando um cigarro (não confirmado). “Também há uma sala onde é possível criar um clima artificial”, acrescentou Daga (aparentemente verdade).

Perto dali, Laxmi Kant Pujari, 26 anos, um assistente de decorador, aguardava para levar amostras de vidro ao prédio. Se as amostras forem escolhidas, Pujari, uma migrante, cuidaria da instalação –uma tarefa que ele considerou uma grande honra.

“Seja um mendigo ou um Ambani, o desejo de enriquecer está no coração de todos”, ele disse. Mais adiante na rua, Sushala Pawar reconheceu a dificuldade para entender a diferença entre a vida de Ambani e a dela. Ela cozinha para uma família em um apartamento próximo, ganhando 4 mil rupias por mês, aproximadamente US$ 90. Ela dorme no chão do corredor depois que a família vai para a cama.

“Eu sou um ser humano”, ela disse. “E Mukesh Ambani é um ser humano. Às vezes eu me sinto mal por viver com 4 mil rupias e Mukesh Ambani morar lá.”

Mas então, se voltando para o prédio, ela demonstrou interesse.

“Quem sabe eu possa arrumar um emprego lá.”



The New York  Times
Jim Yardley
Em Mumbai (Índia)

Tradução: George El Khouri Andolfato

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